domingo, 9 de agosto de 2009

acalanto.

a poesia entra no trem,
maltratada, suja, despenteada.
senta no chão, no cantinho, escondida.

o trem está lotado,
mas ninguém vê a poesia.
nem mesmo a criança com o catavento colorido.

ela suspira, chora de levinho.
ai que o ponto final é eternidade
e o mundo lá fora passa em vôo de tempo.

mas de repente a porta se abre,
entra um homem esbaforido,
com lupa, caderno e lápis na mão!

- Cadê? Cadê? Onde está?
Onde está a poesia?!

ele grita, ao deparar-se com aquela forma-disforme no canto.
abre os lábios em grande contentamento.
com o papel e o grafite começa a sugá-la para dentro de si:

sentimento sentimento sentimento
sentimento [interrupção] sentimento
senti-inter-mente-erupção

o trem segue de luzes acesas,
algumas pessoas,
ao escutarem o homem sussurrar,
jogam-se da janela
e voam para o mundo
com a poesia transtornada dentro do peito.

pripri

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