domingo, 23 de agosto de 2009

Maré baixa.

Nas águas calmas desse lugar,
sinto-me naufragar,
não para baixo ou qualquer
[outro canto.
sinto-me entranhada nas águas,
no espelho Sol,
no balanço dos barcos.

Nas areias desse lugar,
finco-me como raiz,
colhendo, absorvendo,
produzindo.
As raízes dentro de forma
[acolhedora
Sou morta e vida


Renasço em cada amanhecer,
sou a areia escorrendo...
de tua mão

Na areia e Mar dessa praia,
sou apenas transcedente de
qualquer um que já se
afogou.

(ly)

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

movimentos.

pensamento nº 1:
meu deus, o medo cresce dentro de mim como um demônio, como se, de alguma forma, eu pudesse ser possuída inteiramente por ele, pela sua dosagem de bebida alcoólica, pelos seus grandes olhos azuis e ondulantes.
o medo me lembra o mar. porque o mar também nos suga. e o mar é gigantesco, quase infinito. quando você olha para ele, não há mais nada para se sentir, senão o cheiro de sal e água delirantemente impregnadores de consciências.

pensamento n° 2:
ninguém disse que seria fácil. ninguém pegou na minha mão, apertou-a forte e sussurou nos meus ouvidos carinhosamente: vai dar tudo certo, as coisas vão melhorar, você vai conseguir. mas algo dentro de mim nutria a impressão de que o sonho se faz por si só. de que, ao sonhar, temos asas e podemos rumar à plenitude.
é tudo mentira. o sonho não passa de ideário. preciso torná-lo realidade, por mais que, às vezes, eu odeie transformar-me nas coisas, ser folha, casa, olhos, céu, chão. ser mundo. mas é preciso.
caso contrário, tudo pegará fogo.

pensamento n°3:
e daí? tenho medo. é difícil.
tudo se comprova à minha frente. para onde voltar-me quando tudo começar a ser nada, aos pouquinhos? eu não sei.
sei que me exijo. não vou deixar que me cortem os cabelos. podem pintá-lo de branco, sujá-lo. mas não irão arrancá-los de mim.

pensamentos: não importa quem ou o que me aconteça.
se tentarem apagar minha trilha de giz, marco-a com sangue,
se tentarem arrancar meu coração, palpitarei sem ele,
se tentarem empurrar-me ao abismo, voltarei voando.
o mundo gira em uma direção. eu giro ao avesso.

pripri

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

contaminação.

Dizem muitas coisas a mim,
coisas que entram e fundem-se,
coisas que saem sem vestígios,
coisas que contaminam tudo ao redor.
E coisas que levo dentro do bolso,
amassadas, conscientes de sua própria
vida dentro de mim
Espalham-se pelos poros e ácaros,
libertando-se em vida pelas ruas.

(Ly)

domingo, 9 de agosto de 2009

acalanto.

a poesia entra no trem,
maltratada, suja, despenteada.
senta no chão, no cantinho, escondida.

o trem está lotado,
mas ninguém vê a poesia.
nem mesmo a criança com o catavento colorido.

ela suspira, chora de levinho.
ai que o ponto final é eternidade
e o mundo lá fora passa em vôo de tempo.

mas de repente a porta se abre,
entra um homem esbaforido,
com lupa, caderno e lápis na mão!

- Cadê? Cadê? Onde está?
Onde está a poesia?!

ele grita, ao deparar-se com aquela forma-disforme no canto.
abre os lábios em grande contentamento.
com o papel e o grafite começa a sugá-la para dentro de si:

sentimento sentimento sentimento
sentimento [interrupção] sentimento
senti-inter-mente-erupção

o trem segue de luzes acesas,
algumas pessoas,
ao escutarem o homem sussurrar,
jogam-se da janela
e voam para o mundo
com a poesia transtornada dentro do peito.

pripri